Estamos a mais de um ano vivendo uma pandemia que fez com que mudássemos nossos hábitos de convivência social, familiar e o jeito de trabalhar. Resultou na desencarnação de milhares de irmãos no Brasil e no mundo, e muitos venceram a enfermidade com sofrimento físico, reveses financeiros e abalos morais.
O que mais se ouviu e ainda se ouve durante esse processo é a necessidade de mudança em nosso comportamento e a forma de ver a vida, nas inquietações que esses eventos nos impõem. Meditar sobre as consequências práticas no nosso comportamento é imperativo para que possamos sair melhores do que entramos nessa pandemia.
Uma questão que vêm à mente é o desapego. Desapegar nos remete a uma passagem do Evangelho quando Jesus faz uma recomendação ao jovem rico dizendo: "se queres ser perfeito, vai, desfaze-te do que tens e depois vem e segue-me". Muitos interpretam essa passagem e acreditam que seja fazer votos de pobreza ou se isolar do mundo e viver em estado monástico.
Entretanto, ela tem uma mensagem espiritual e de elevação. Desfazer-se do que temos é pensar na transitoriedade da matéria e dar mais valor para as coisas espirituais. Temos que nos desfazer das coisas que nos fazem mal, do egoísmo que destrói as relações familiares e leva aos conflitos sociais de toda a ordem, fonte das desigualdades entre irmãos e nações, das posições sociais e profissionais que exaltam a vaidade, da falta de humildade que nos faz crer que somos imortais - do ponto de vista do corpo, já que, para nós, o Espírito sobrevive sempre, e invencíveis. Precisamos nos desafazer da descrença e do medo que nos faz perder a esperança em dias melhores e na construção de um "novo normal", com mais harmonia, menos ódios e antagonismos.
"Desapegar-se", essa, talvez, seja a mensagem que fica desse momento. Viver com o menos, quando possível. No livro Floresça Onde Estiver, Cezar Said nos fala que devemos nos libertar de tudo o que não tem utilidade e se encontra guardado, trancado, em casa e em nossa vida. Encontrar o prazer nas coisas simples da vida: um sorriso amigo, um raio de sol, uma gota de chuva, um abraço rico de ternura e uma paisagem.
Desapegar é trocar a abundância das relações para as que nos ensinam e nos ajudam a evoluir. Pensar que nossa passagem na Terra tem tempo determinado e desperdiçar o tempo com coisas menos úteis atrasa a evolução e prejudica.
Desapeguemo-nos, então. Façamos a vida mais leve e mais sustentável do ponto de vista do ambiente físico e espiritual. Vivamos, afinal, com o necessário que nossa consciência indica.
Texto: Rogério Luis Reolon Anése
Trabalhador da Sociedade Espirita Bezerra de Menezes